1932 | A Cor da Guerra
A fotografia contém em si realidades e ficções e, de modo algum, é um testemunho fiel da realidade da qual origina – a primeira realidade. Ela constitui uma segunda realidade, criada pelo fotógrafo – contratado ou não por terceiros -, em um tempo e espaço precisos. Valendo-se de uma tecnologia determinada e privilegiando um assunto selecionado do real. Portanto, o fotógrafo é um “filtro cultural” que se interpõe entre a primeira realidade, a do período histórico, e a segunda realidade, a do documento fotográfico.
Boris Kossoy
A “Revolução Constitucionalista de 1932”, como tradicionalmente é conhecida em todo o Estado de São Paulo, é muito pouco estudada nas escolas de todo o Brasil, para não dizer, um fato atualmente “muito pouco relevante” para o ensino de História nos outros Estados da Nação. Já em São Paulo, a questão da memória é muito forte, pois ainda há ex-combatentes vivos entre nós, há centenas de sobreviventes desta guerra civil. Portanto, há em nossa memória inconsciente, certa ligação moral para com este acontecimento.
Durante a guerra, que se iniciou na madrugada do dia 9 de Julho de 1932 e teve sua carta de rendição assinada a 2 de Outubro do mesmo ano, na cidade paulista de Cruzeiro, o uso massivo da propaganda foi fundamental para ambos os lados da luta. Além da manipulação dos jornais de todo o país, numa guerra de palavras paralela ao conflito bélico, temos também o uso do rádio, não apenas transmitindo boletins diários sobre os últimos acontecimentos nas linhas de frente, como também tocando músicas e marchinhas referentes ao conflito, transmitindo discursos e palestras de intelectuais paulistas pró-voluntariado, e, já no final da guerra, sob total manipulação dos órgãos militares, enviando notícias falsas sobre a situação nas diversas linhas de frente, em uma tentativa quase que desesperadora de aumentar a moral dos soldados. Já pelo lado Federal, o uso de tais meios de comunicação também foi expressivo e manipulado, principalmente para espalhar a ideia de que a revolta paulista era uma tentativa de separação do Brasil.
Durante toda a “campanha revolucionária”, centenas de fotógrafos profissionais, usaram seus estúdios, principalmente nas cidades próximas das fronteiras, onde os combates mais importantes aconteceram, para fotografar os voluntários que seguiam para a linha de frente. Era costume a revelação da foto em tamanho “cartão postal”, onde imediatamente, o voluntário a enviada para a família através do Correio Militar MMDC (órgão extremamente eficiente responsável por todas as correspondências paulistas durante a guerra). Muitos destes soldados e dos próprios fotógrafos montaram, durante o conflito, diversos álbuns fotográficos com centenas de imagens referentes aos bastidores da guerra.
Núcleo MMDC de Itapira “Cel. Francisco Vieira”
1932 | A Cor da Guerra
Nesta exposição, organizada pelo curador Eric Apolinário, presidente-fundador do Núcleo MMDC de Itapira “Cel. Francisco Vieira”, a ideia foi trazer ao público, de uma maneira totalmente artística, uma nova perspectiva sobre os acontecimentos daquele inverno de 1932 na cidade de Itapira. Foi então que Apolinário entrou em contato o amigo fotógrafo e designer gráfico Paulo Bellini, explicando seu projeto. Bellini topou no ato e a exposição “1932 |A Cor da Guerra” logo tomou forma. São ao todo, 25 fotografias selecionadas diretamente dos arquivos do Núcleo MMDC de Itapira “Cel. Francisco Vieira”, todas sob intervenção artística de Paulo Bellini.
A proposta desta exposição não é substituir uma fotografia originalmente em preto e branco por uma colorida, descontextualizando assim sua importância enquanto documento, mas sim reconstituir de maneira artística aquela realidade e trazer para o presente, mostrando assim uma nova possibilidade de interpretação aos olhos das novas gerações que estão conhecendo a história de 32. Esta é mais uma parceria entre Núcleo MMDC de Itapira “Cel. Francisco Vieira” e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.
SERVIÇO:
EXPOSIÇÃO: 1932 | A Cor Da Guerra
DATA: de 9 a 31 de Julho de 2015.
ENTRADA FRANCA
LOCAL: Museu Municipal Histórico e Pedagógico Comendador Virgolino de Oliveira, Parque Juca Mulato, Itapira-SP.
HORÁRIO: das 8h às 11h15 | das 13h às 17h15 – Aos Domingos: das 8h30 às 11h30. Agendamento de grupos e escolas: (19) 3863-0835 ou pelo e-mail: [email protected]
Núcleo MMDC de Itapira “Cel. Francisco Vieira”
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